Tuesday, October 17, 2006

sessão das 19:30 h

elza de sá nogueira


clarice e seu abismo.
o marido de clarice e seu abismo.
o menino etíope e seu abismo.
estão sós - três abismos.
mas tão juntos, os três!
duas horas e vinte minutos depois
clarice irá ao restaurante comer salmão grelhado com o marido
e o menino etíope estará na tela com seu abismo.
onde andará o ator?
e os meninos etíopes?
e a humanidade?

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Procuro respostas a esses enigmas feitos de abismos. E feitos só com abismos propositalmente, parece-me. Tenho a idéia de que o abismo entre quem prepara o cardápio da televisão e quem prepara a comida do cardápio na cozinha do restaurante (dessa vez, salmão) é, afinal, a resposta que comemos todos juntos: frio abismo acompanhado de solidão cristalina na taça que nunca, ou quase nunca, comemora a vitória. Mas já dizia Fernando Pessoa que quando ele pediu amor, lhe serviram dobrada à moda do Porto. Fria. Nunca se come fria. Mas não se pode ter razão nem num restaurante. E vamos todos passear por toda a rua. Rua afora porque em casa nunca temos razão. E agora me lembro de outro texto pelo qual me apaixonei: asilo para desabrigados: Adorno. Que a moralia seja a Minima. Sei, e saiba, Elza, que não estamos sozinhas nessa arena onde somos todos gladiadores contra o frio e cruel abismo no qual nos lançam as instituições todas mal pensadas, mal paridas, mal dissimulando sua misoginia.

1:09 PM  

Post a Comment

<< Home